Emanuela Orlandi: quem é “A Garota Desaparecida do Vaticano”?
Nascida em 1968, Emanuela Orlandi era uma adolescente de 15 anos e morava com sua família em um apartamento gratuito dentro das dependências do Vaticano em razão de seu pai ser um funcionário do local onde reside a autoridade máxima da Igreja Católica, o Papa.
Ela, que cultivava um amor intenso pela música, tinha aulas de flauta três vezes por semana. Após uma delas, em junho de 1983, desapareceu.
Desesperados e sem notícias da filha naquele dia 22, os pais de Emanuela ligaram para o diretor da escola, que disse não ter informações sobre a garota após esta ter ido embora do colégio. Passados mais de uma semana e com a investigação da polícia ganhando intensidade, Roma foi preenchida com três mil cartazes exibindo a fotografia de Orlandi.
É neste momento, com a proporção que toma o caso e sob pressão, que o Papa João Paulo II apelou publicamente aos responsáveis pelo desaparecimento de Emanuela para que dessem notícias. Com o não retorno de Emanuela desde então, teorias para o ocorrido são ofertadas.
As duas principais teorias
Dentre as muitas teorias levantadas sobre o possível paradeiro da adolescente desaparecida, duas são as mais fortes, havendo entre elas, uma que se sobrepõe a outra.
Terroristas turcos – a mais fraca
Em maio de 1981, o Papa João Paulo II foi vítima de uma tentativa de homicídio por parte de Mehmet Ali Agca que, após ser identificado, foi preso.
A família de Emanuela, em determinado momento, recebeu uma série de telefonemas anônimos de uma suposta organização criminosa afirmando estar com a garota e, em 8 de julho, pouco menos de um mês do desaparecimento, um homem com suposto sotaque do árabe ligou para um dos colegas de classe da vítima dizendo que a adolescente estava em suas mãos e que eles tinham 20 dias para fazer uma troca: a garota pelo atirador.
Após diversos desenrolares, incluindo uma linha telefônica do grupo direto com o então Secretário de Estado Agostino Casaroli, o desfecho foi inconclusivo.
Anos depois, durante uma entrevista feita na prisão, Agca afirmou que Emanuela havia sido sequestrada pelos Lobos Cinzentos, uma organização turca da juventude ultranacionalista e neofascista, e estaria num convento. Porém, afirmou que suas afirmações não passam de meras deduções.
O envolvimento do Vaticano
A principal dúvida das pessoas que se interessavam pelo caso de Emanuela era descobrir se, afinal, o Vaticano poderia ou não estar envolvido no desaparecimento e, se sim, qual seria o interesse por trás disso. Isso porque a Santa Igreja não parecia fazer muito esforço para que o sumiço da garota fosse solucionado com a maior celeridade possível, demonstrando muitas vezes que sua intenção era, de certo modo, dificultar o esclarecimento dos fatos.
A desconfiança de que o Vaticano poderia estar envolvido de certo modo no crime começou a surgir quando uma amiga de Emanuela contou que, antes de ser raptada, a adolescente teria confessado à ela que estava sendo importunada sexualmente por um cardeal que era aliado próximo ao Papa. Assim, a menina poderia ter sido raptada a mando do próprio corpo da Igreja para que o assédio fosse jogado para debaixo do tapete e esquecido.
Mais ainda, um outro braço teórico dentro dessa mesma tese de que o Vaticano teria responsabilidades no crime surgiu.
A máfia
Existe uma desconfiança que sugere que a “Magliana”, organização mafiosa italiana, sequestrou a adolescente para pressionar o Vaticano a devolver o dinheiro que eles haviam emprestado para financiar secretamente o “Solidariedade”, sindicato que na época lutava contra o comunismo na terra natal do papa, a Polônia. O Papa sempre mostrara ser a favor de ideias anticomunistas até mesmo antes de assumir o papado e pregava publicamente ser contra este tipo de regime em seu país.
Contudo, o Vaticano, segundo a teoria, com medo de ter o segredo revelado – o de que um braço direito do Papa abusou sexualmente de uma adolescente -, teria agido dolosamente ao se manter passivo mediante o sequestro da pequena cidadã, passando indiretamente a apoiar o que a gangue havia feito.
Esta teoria é a mais aceita pela família de Emanuela e por pesquisadores que se aprofundam no caso. “O Vaticano sabe a verdade. Já faz muito tempo. Nós nunca vamos parar de procurá-la.”, afirma Pietro Orlandi, irmão da vítima.
A versão do Vaticano
O Vaticano não se pronuncia sobre o assunto e se recusa a conceder informações que possam levar ao paradeiro da garota.
A família chegou a ter esperanças de que o Papa Francisco se pronunciasse sobre o caso quando foi escolhido em 2013, mas chorou quando este se limitou a dizer que Emanuela estava no céu.
A família permanece na esperança de descobrir a verdade.