Crime de Lindomar Castilho: assassinato de Eliane de Grammont, prisão e liberdade
Lindomar Castilho, na década de 70, era provavelmente um dos maiores cantores brasileiros e, sem dúvida, o maior que tínhamos quando o assunto era bolero. Ele, que lançava seus LP’s simultaneamente tanto no Brasil como nos Estados Unidos, era autor de sucessos como “Você é doida Demais” e um dos maiores vendedores de discos do Brasil – só com um LP, vendeu 800 mil cópias.
Eliane de Grammont, por outro lado, era uma artista em ascensão. Filha de Elena de Grammont, importante compositora brasileira, já possuía uma música que havia sido tema de novela e estava aprendendo a lidar com a fama quando cruzou o caminho de Lindomar em 1977, nos corredores da gravadora RCA, no Rio de Janeiro. Ele e ela se apaixonaram e, quando se casaram, em 1978, Eliane já tinha seis meses de gravidez.
O casamento não recebera a benção da mãe e dos irmãos de Eliane – seu pai já havia morrido em decorrência de uma miocardiopatia -, o que não impediu que o matrimônio prosseguisse e que ambos oficializassem a paixão que sentiam.
O relacionamento abusivo
Contudo, assim que a vida conjugal iniciara, o homem, até então doce e romântico, passou a ser agressivo e muito ciumento. Quinze anos mais velho, Lindomar logo exigiu que a mulher abandonasse a carreira, e, por um período, a artista ficou longe da música para cuidar de tarefas domésticas.
Ainda mais, não bastasse ter de ser praticamente uma mãe solteira em razão das muitas viagens de Lindomar como cantor, quando ele estava em casa era ainda mais insuportável, pois a violência e o alcoolismo do marido tornavam a relação insustentável. Com diversas separações e reconciliações mediante promessas de melhora, Eliane, não à toa, se cansou e pediu a separação definitiva com um pouco mais de um ano de matrimônio.
Eliane até tentou uma nova reconciliação para que a filha não crescesse sem um pai ou uma família “estruturada”, mas Castilho a recebeu como se razão tivesse e afirmou que só voltaria com o casamento se Eliane assinasse um contrato onde se comprometia a cumprir 10 condições específicas. Certo de que Eliane aceitaria e imploraria para que voltassem, ficou extremamente furioso quando ouviu um “não” da sua ex-esposa, o que o levou a esquecer que era uma das pessoas públicas mais notáveis de seu tempo.
O fim
Desta forma, em 30 de março de 1981, ensandecido por saber que a “esposa” havia voltado a cantar, foi em direção à boate Belle Époque onde Eliane, que havia deixado a filha com Lindomar naquela noite, cantava Chico, Elis Regina e outras vozes da MPB, além de músicas escritas por sua mãe.
Naquela madrugada, Lindomar entrou e, armado, começou a atirar. Cinco disparos foram efetuados.
Eliane foi baleada no peito, enquanto Carlos Randall, primo de Lindomar – que o cantor suspeitava estar tendo uma relação com Eliane – e que tocava violão para a voz da mulher ferida, também foi atingido e mesmo assim, atracou-se com o assassino e, com a ajuda de William Schmidt, dono do local, imobilizou e amarrou Castilho. A cantora foi socorrida, mas morreu a caminho do hospital.
Preso em flagrante, o criminoso saiu da cadeia por ser réu primário e pôde esperar o julgamento em liberdade.
Levado a julgamento, a defesa do cantor afirmava que Grammont não cumpria com suas obrigações maternas, além de ser infiel ao cliente. Naquele contexto, era comum que o assassinato de mulheres fosse defendido com argumentos como os de que o homem agia por “violenta emoção” ou até mesmo para “defender a honra” prejudicada por traições.
Mulheres engajadas em movimentos feministas, todavia, lutavam contra a estratégia defensiva e protestavam nas ruas pedindo a prisão imediata de Lindomar e uma pena de longa duração.
Em agosto de 1984, Lindomar foi condenado. Porém, sua pena foi de apenas 12 anos de prisão cumprindo seis deles em regime semiaberto, ganhando liberdade em 1996.
Atualmente, ele vive sozinho em Goiás, sua terra natal e abandonou a carreira.