Como os Estados Unidos conquistaram a sua independência
A Guerra de Independência dos Estados Unidos, também conhecida como Revolução Americana, foi um marco histórico que ocorreu entre 1775 e 1783, quando as então Treze Colônias britânicas na América do Norte buscaram libertar-se do domínio colonial da Grã-Bretanha e estabelecer-se como uma nação soberana.
Este conflito não apenas alterou o curso da história dos Estados Unidos, que se tornou independente e pôde escalar até se tornar uma das maiores potências mundiais do mundo contemporâneo, mas também teve repercussões globais ao influenciar futuras gerações a lutar por independência e por ideais de vertente democrática em todo o mundo.
As insatisfações
A independência dos Estados Unidos foi, em termos mais diretos, o resultado do rompimento das relações das Treze Colônias com a Inglaterra em razão dos conflitos de interesses que os colonos possuíam com a Coroa. A partir de determinado momento, os moradores das colônias passaram a ver a relação com a Grã-Bretanha sem sentido, percebendo que ela favorecia muito mais o lado europeu em detrimento do sofrimento do norte-americano.
O primeiro fato que pode ser mencionado como uma das insatisfações era as séries de conflitos armados nos quais a Inglaterra se envolvia. Como parte da Coroa, esses conflitos tinham reflexos diretos nas Treze Colônias. A Guerra dos Sete Anos é um exemplo disso.
O conflito britânico com os franceses gerava intensos combates entre os colonos britânicos das Treze Colônias e os colonos franceses (da região do Canadá). Nessas lutas, todo o peso era suportado pelos colonos, desde o sustento de tropas até a formação de batalhões para ajudar a Coroa em seu objetivo. No decorrer da guerra, porém, apesar de serem fator importante para o avanço britânico, os interesses dos colonos não eram considerados pela Inglaterra.
Pode ser citado como exemplo o momento em que os ingleses decidiram se envolver na guerra de sucessão do trono austríaco. Ingleses e franceses defendiam lados diversos e isso resultou em conflitos no lado norte-americano. Os colonos financiaram um ataque a Louisbourg, tomando um forte local, mas, no final, com o poder sobre o território dominado, os ingleses os forçaram a devolver o forte para os franceses.
Além disso, havia também a questão da ocupação das terras do oeste. Essas foram invadidas e retiradas das mãos dos franceses logo após a Guerra dos Sete Anos. Com a conquista, os colonos ingleses norte-americanos desejavam ocupar tais terras dominadas com tanto esforço, mas a Coroa inglesa decidiu que não permitiria a ocupação.
Não bastasse o descaso britânico para com o interesse privado das colônias, os gastos que a Inglaterra teve com suas guerras ao longo do século XVIII, bem como com a Revolução Industrial, trouxeram, para o lado europeu, a necessidade de maior arrecadação de impostos. Essa necessidade gerou a criação de novas leis tributárias a serem pagas pelos colonos e, mais do que isso, novos mecanismos para garantir o pagamento das novas obrigações também foram inventados. Um desses métodos foi aumentar o número de oficiais britânicos nas colônias.
Desta forma, a maior presença de autoridades inglesas nas Treze Colônias colocou um fim na política – que até então vigorava – que dava grande autonomia aos colonos. Entre as leis anunciadas pela Inglaterra, destacam-se a Lei do Açúcar, a Lei da Hospedagem, a Lei da Moeda, a Lei do Selo e os Atos Townshend. Entre elas, uma das que mais causou indignação foi a Lei do Selo, que determinava que documentos em papel tivessem, obrigatoriamente, um selo inglês – que era pago.
Essa lei gerou protestos e boicotes por parte da população colonial, forçando a Inglaterra a revogá-la não muito tempo depois de entrar em vigor. Entretanto, mesmo com os protestos, outras leis foram anunciadas posteriormente, como os Atos Townshend e a Lei do Chá, sendo que esta última serviu como o estopim necessário para que a insatisfação dos colonos os levasse à independência.
Lei do Chá e as Leis Intoleráveis
A Lei do Chá foi anunciada em 1773 e determinava que todo o chá vendido nas Treze Colônias seria obrigatoriamente comercializado pela Companhia das Índias Orientais. Isso significava que todo comerciante colonial que tinha no comércio de chá sua fonte de renda para sustentar sua família deveria procurar outro ofício, sendo criado, por lei, um monopólio do produto por parte da Coroa Britânica.
Além de afetar uma série de comerciantes, que não poderiam mais comercializar o produto – que era importante no local -, também faria com que o preço do chá subisse, pois, agora, apenas uma empresa o venderia, possuindo consigo o direito de colocar no produto o preço que bem entendesse, tirando a oportunidade de escolha dos colonos. Quem quisesse chá, teria de comprar da Companhia das Índias Orientais ou então simplesmente não o tomar.
A indignação com a lei motivou cerca de 150 colonos disfarçados de índios – povo cuja Coroa não queria ter problemas – a invadirem o porto de Boston e destruírem diversos carregamentos de chá da companhia monopólica. Estima-se que cerca de 340 caixas tenham sido lançadas ao mar, fazendo com que uma grande quantidade de chá se perdesse.
Esse evento recebeu o nome de Festa do Chá de Boston.
As autoridades inglesas, ao ficarem sabendo do que havia acontecido, ficaram furiosas e decidiram punir as colônias norte-americanas da maneira mais severa possível. Assim surgiram as chamadas Leis Intoleráveis.
Entre essas leis estava, por exemplo, a determinação do fechamento do porto de Boston até que o prejuízo fosse pago. Além disso, elas determinaram a proibição do direito de reunião dos colonos, além da autonomia de Massachusetts ter sido revogada, fazendo com que a Inglaterra levasse ainda mais soldados para lá, tornando, por lei, uma obrigação dos colonos abrigá-los e alimentá-los, ainda que os reprimissem.
As reuniões e a Declaração de Independência
As Leis Intoleráveis foram a motivação cabal que os norte-americanos precisavam para se reunirem enquanto povo para tomar decisões por si. Com o avanço da mão de ferro britânica, representantes das Treze Colônias decidiram se reunir para debater a situação com os ingleses.
Essa reunião se deu com o “Primeiro Congresso Continental da Filadélfia”, realizado entre setembro e outubro de 1774. Nesse primeiro encontro, os colonos expressaram a enorme insatisfação que tinham com as leis impostas pelos ingleses, mas decidiram que o melhor a se fazer, naquele momento, era manter a fidelidade ao Rei inglês, apesar de tudo.
Aparentemente sentindo que possuíam poderes plenos mesmo com a recente organização norte-americana em um congresso, a Inglaterra continuou com sua mão pesada, decidindo, dia após dia, enviar mais tropas para as Treze Colônias, sempre obrigando os colonos a sustentá-las. O desgaste nas relações aumentou consideravelmente a partir disso e os primeiros conflitos armados entre colonos e ingleses aconteceram através da Batalha de Lexington e Concord, em 1775.
Posteriormente, organizou-se o “Segundo Congresso Continental da Filadélfia”, no qual os representantes das Treze Colônias alegaram que, agora, não havia mais condições de manter os laços com o Rei nem com qualquer parte ligada à Grã-Bretanha.
Assim, em 4 de julho de 1776, após uma grande reunião, foi emitida a Declaração de Independência, documento que explicava os motivos da separação, assinado por um comitê liderado por Thomas Jefferson.
Diferente do que muitos pensam, a emissão da dita declaração não encerrou os conflitos com a Coroa. Os combates entre colonos norte-americanos e ingleses continuaram acontecendo e se estenderam por mais cinco anos após o fatídico 4 de julho. Para garantir a defesa de sua independência, os colonos formaram uma milícia armada, que lutou contra as tropas inglesas.
A derrota dos ingleses foi sacramentada através daquilo que ficou conhecida como Batalha de Yorktown, que ocorreu no final de 1781. Depois dela, os ingleses finalmente aceitaram negociar com os norte-americanos, e a independência dos Estados Unidos foi reconhecida através do Tratado de Paris, em 1783.
Desde então, os Estados Unidos da América são um país livre e sem codependência com nenhuma outra nação, tornando-se, ao longo dos séculos, uma das maiores potências mundiais.