A história trágica do Voo Varig 820: conheça o que causou o acidente
Era noite de terça-feira, 10 de julho de 1973 e o Aeroporto Internacional do Galeão estava, como de costume naquela época, movimentado. Os passageiros do voo RG820 com destino a Londres com escala em Paris se preparavam para partir.
Já com as portas fechadas e com todos os procedimentos de praxe feitos, os quatro motores do Boing 707 começaram a serem acionados. Quando o relógio marcava 0h03 de 11 de julho de 1973, o voo 820 da Varig decolava da pista 15 do Galeão rumo ao Aeroporto de Orly com 17 tripulantes e 117 passageiros, incluindo personalidades como o cantor Agostinho dos Santos, a atriz e socialite Regina Lecléry, o iatista Jörg Bruder, o senador Filinto Müller, então presidente do Senado Federal, e os jornalistas Júlio Delamare e Antônio Carlos Scavone.
Minutos após a decolagem, o aviso dos cintos fora desligado, assim como o de não fumar iniciando-se o serviço de bordo. Às 3h26, o quadrimotor voava a 37 mil pés e bloqueava a vertical de Recife, iniciando sua travessia pelo Atlântico.
Às 4h30, como o programado, o comandante Gilberto foi acordado de seu descanso para assumir novamente os controles da aeronave. O cruzamento do Atlântico aconteceu de forma tranquila.
Naquele momento, os lavatórios do avião já haviam sido utilizados inúmeras vezes e centenas de toalhas de papel se acumulavam nas lixeiras. Um passageiro entrou no banheiro central da classe econômica e acendeu um cigarro. Ao mesmo tempo, o serviço de café da manhã era iniciado na primeira classe. Antes de sair do banheiro, o passageiro jogou o cigarro em uma das lixeiras, lavou suas mãos e se dirigiu ao seu assento.
O jato começava a se aproximar da capital francesa pelo setor sudoeste e iniciou a descida de nível de cruzeiro. Os trabalhos na cabine de comando eram intensos. Simultaneamente, a brasa do cigarro jogado na lixeira se alastrava pelos papéis da lixeira no banheiro.
Próximo das 15h, o comandante Gilberto, que gerenciava as comunicações com o controle em Paris, alertou aos passageiros que o pouso no Aeroporto de Orly aconteceria em alguns minutos, que a temperatura era 26º C e passou instruções de segurança finais antes da chegada.
Ninguém a bordo do voo 820 havia percebido o que estava acontecendo até então. Ainda que o aviso dos cintos estivesse ligado, uma passageira decidiu ir ao banheiro e optou pelo da esquerda. O fogo já havia destruído a tubulação dos exaustores e a fumaça, até então apenas localizada no compartimento do banheiro central, começou a invadir o banheiro esquerdo, onde a usuária estava. Cercada por fumaça e assustada, ela saiu rapidamente do local e alertou os comissários sentados próximos aos lavatórios. O fogo já se alastrava e atingia as primeiras conexões elétricas.
O desespero e o fim trágico
Os comissários que estavam na parte traseira do jato examinavam o banheiro esquerdo, mas não havia sinal de fogo, apenas fumaça. Eles não olharam o banheiro central.
No entanto, começaram a tomar as providências que achavam cabíveis para resolver o problema e, então, comunicaram o comandante, desligaram os equipamentos elétricos na área onde são preparados os alimentos e bebidas na parte traseira e buscaram extintores de incêndio. A confusão sobre qual era a origem da fumaça fez com que nenhuma das ações para controlar a situação fossem úteis.
Assim que recebeu a informação de fogo, o comandante Gilberto comunicou Orly sobre o fogo a bordo e solicitou uma descida de emergência. No aeroporto, emitiu-se um “alerta verde”, equivalente a um pequeno risco de acidente. A fumaça já estava densa e se espalhando. Já não era mais possível se aproximar do foco do incêndio sem máscara.
A movimentação intensa dos tripulantes assustava os passageiros. Com máscaras e óculos antifumaça, os pilotos e a tripulação estavam na cabine de comando verificando as alternativas que lhes restavam, já sem conseguir visualizar os instrumentos logo à frente. Pouco a pouco, os passageiros foram desmaiando, perdendo a consciência e morrendo, em um profundo silêncio. Com a situação caótica, Gilberto decidiu pousar o Boeing no primeiro local que visse.
Antes de tocar o solo, todos os motores foram cortados e, faltando cinco quilômetros para chegar a Orly, o Varig atingiu uma plantação de repolhos. Foram alguns impactos, e, em cada um deles, uma parte da aeronave se soltou. O 707 se arrastou pelo campo e quando parou por completo, sua fuselagem estava praticamente intacta.
Dez minutos após a queda, os bombeiros de Orly chegaram ao local e rapidamente controlaram o incêndio.
O pouso, ainda que tenha sido considerado bem-sucedido perante as condições a que foi submetido, acabou não salvando a maioria dos ocupantes a bordo, morrendo 122 pessoas no acidente.