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Revolta e indignação: familiares das vítimas do Voo AF447 querem justiça

“A Justiça francesa culpou quem morreu e não as empresas envolvidas na tragédia do voo Rio Paris”.

Essa declaração foi dada pelo diretor e co-fundador da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447, Marteen Van Sluys ao avaliar, em entrevista à BBC News, a decisão do Tribunal Penal de Paris que considerou que a Airbus e a Air France não são culpadas pela catástrofe que matou 228 pessoas em 2009 e que se tornou a maior da história da aviação civil francesa.

O homem, que perdeu sua irmã na tragédia, disse que “começaram a julgar o erro a partir da atuação dos pilotos. Mas o que provocou toda a pane da aeronave foi minimizado no processo. A decisão reconhece que houve falhas técnicas, porém sugere que a culpa teria sido dos pilotos que poderiam ter agido de outra forma. Mas eles nem tinham treinamento para lidar com a situação que ocorreu”.

A decisão da Justiça francesa foi aguardada por quase 14 anos após o acidente e é decorrente do julgamento penal realizado entre outubro e dezembro de 2022, em que a Airbus e a Air France respondiam por homicídios culposos.

Os familiares das vítimas esperavam que esse julgamento, que teve inúmeras audiências com especialistas técnicos, revelasse que a catástrofe poderia ter sido evitada se as duas companhias tivessem sido mais rigorosas em relação à segurança.

A Justiça francesa, no entanto, considerou que, embora as duas empresas tenham cometido “falhas”, não foi possível demonstrar “nenhuma relação de causalidade certa” com o acidente. “Ser responsável, mas não culpado é ridículo, é um escárnio”, ressalta Van Sluys à BBC.

A Air France cometeu, segundo a Justiça francesa, duas “imprudências” que teriam a ver com as modalidades de divulgação de uma nota informativa destinada aos pilotos sobre o congelamento das sondas de velocidade. que foram um dos fatores responsáveis pelo acidente.

Entretanto, na esfera penal, segundo o tribunal, uma relação de causalidade provável não é suficiente para tipificar um delito. “Por se tratar de falhas, não foi possível demonstrar uma relação de causalidade com o acidente”, avaliou a Corte.

“Se partirmos desse princípio, nunca vai ter um culpado em acidentes aéreos. Vai ter sempre a possibilidade de corrigir algo que poderia evitar o acidente”, afirma o irmão de uma das vítimas.

“Nós esperávamos um julgamento imparcial, mas não foi o caso. Estamos enojados”, declarou Danièle Lamy, presidente da associação francesa Ajuda Mútua e Solidariedade, que representa os parentes de vítimas francesas. 

Van Sluys afirma que se for possível, ele e outros familiares, inclusive os de outros países, irão recorrer da decisão. “A ideia é levar isso até a última instância possível e mostrar que o caso não acabou. Estamos dispostos a esgotar todas as possibilidades. É uma questão de honra”.

“Vou até o fim. Não é por insistência. Perdemos vidas. Minha irmã era jornalista, atuava na área de direitos humanos, e faria o mesmo por mim”, encerrou o diretor e co-fundador da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447.


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