“Ted Bundy – Um estranho ao meu lado” é um livro que mescla por um lado a ideia investigativa dos crimes e por outro os relatos de Ann Rule, a autora da obra que conviveu e chamou de amigo um dos mais notórios assassinos em série da história do mundo.
Ann Rule trabalhou com Ted Bundy em uma clínica de prevenção ao suicídio durante alguns anos e, nesse interim, se aproximou dele. Nunca foram melhores amigos, mas Ted parecia entendê-la e sempre se mostrou um bom companheiro para momentos complicados quando precisava de um desabafo. A obra relata o choque de Ann ao descobrir que Ted, seu colega até que próximo, foi preso e estava sendo acusado de inúmeros assassinatos cruéis, todos envolvendo jovens mulheres que, além de assassinadas, foram abusadas e maltratadas.
Ted Bundy se tornou um dos assassinos em série mais conhecidos das pessoas não apenas pelas mais de trinta vítimas espalhadas pelos Estados Unidos, mas também por se distanciar do que se espera de um assassino em série, visto que era bonito, educado, e muito charmoso. Ele enganava muito bem e tinha uma boa lábia, o que o tornava um mentiroso notório, conseguindo, por isso, se ver livre de diversas situações envolvendo sua vida criminosa.
Os relatos da Ann, como dito, se dividem entre os detalhes e as investigações dos ataques, comentando sobre as vítimas com a sensibilidade que o assunto demanda. Ela explica o que foi ter convivido com Ted, afirmando que o homem que ela conhecia, gentil e amigo, e o criminoso dos noticiários e do julgamento, não pareciam em absolutamente nada compatíveis.
A relação entre eles é tão esquisita quanto inesperada. Através do relato de Ann, é possível conhecer um pouco mais da humanidade de Bundy, sempre fazendo questão de não relativizar os horrores que as vítimas sofreram. Para Ann, ele era apenas humano. Um humano que cometeu atrocidades monstruosas, mas que tinha uma história, que convivia com pessoas que nunca machucou.
Assim, nesta obra, é possível ter uma noção do como um criminoso pode ser, na maior parte do tempo, uma pessoa comum, com gostos e anseios comuns, mesmo que, na menor parte do dia, seja uma pessoa horrível e que mereça passar a vida atrás das grades. A ambiguidade do cérebro de Ted Bundy está muito presente e, por si só, já vale a leitura das quase 600 páginas.
