Massacre do Paralelo 11: 60 anos sem reparação histórica aos indígenas
O segundo volume do relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), divulgado em dezembro de 2014, lança luz sobre um capítulo sombrio da história brasileira: o genocídio de indígenas durante a ditadura militar.
Segundo as conclusões da CNV, pelo menos 8.300 indígenas foram mortos nesse período, com destaque para os 3.500 cintas-largas, povo que habita entre os estados de Rondônia e Mato Grosso, no sudoeste da Amazônia.
Massacre do Paralelo 11
O episódio mais notório é o chamado “Massacre do Paralelo 11”, ocorrido em novembro de 1963, pouco antes do golpe de 1964. A brutalidade desse evento é marcada por um número incerto de mortes, que, de acordo com documentos e relatos da época, variam de nove a 20 vítimas.
No entanto, a violência contra os cintas-largas não se limitou a esse episódio, com relatos de ataques anteriores, como o uso de dinamite jogada de aviões, e outros posteriores, totalizando aproximadamente 3.500 vítimas.
A investigação da CNV foi prejudicada por lacunas nos registros, bem como pela interferência do extinto Serviço de Proteção aos Índios (SPI) em negócios ilegais de exploração de terras indígenas. As violações persistiram ao longo da ditadura, estendendo-se até os anos 1980, com notícias de massacres.
As dificuldades em determinar o número exato de vítimas e responsabilizar os perpetradores por genocídio complicam a construção de uma memória mais precisa.
Especialistas ouvidos pelo Folhapress destacam a necessidade de investigações mais aprofundadas, reforçando que os pedidos por justiça são antigos, como demonstrado por uma nota da Folha de S.Paulo em dezembro de 1963, questionando quando e quem investigaria o massacre dos cintas-largas.
Os ataques contra os povos indígenas durante a ditadura não se restringiam a confrontos diretos, incluindo também a distribuição de alimentos envenenados, a disseminação proposital de doenças e crimes sexuais.