Se o nome Karol Wojtyla não lhe é familiar, não estranhe. Para a maior parte do mundo não o é. O nome verdadeiro do Papa João Paulo II, porém, na Polônia, sua terra natal, é muito conhecido e não apenas por anos de dedicação à Igreja Católica até a chegada ao papado, mas sim por, teoricamente, ter sido o responsável pelo estopim do fim da ditadura comunista em seu país.
Mesmo antes de ser papa, Wojtyla já tinha uma posição inflexível contra o regime comunista, sendo considerado uma espécie de rebelde pelo governo. Um exemplo de suas rebeldias foi ajudar a instalar clandestinamente cruzes de madeira em campos da Polônia e incentivar a construção de igrejas numa época em que o governo enxergava com péssimos olhos qualquer manifestação religiosa.
Quando chegou ao controle do Vaticano, o Pontífice sempre se manifestara a favor da liberdade de expressão e da dignidade da pessoa humana o que, teoricamente, eram ideias opostas ao comunismo. Portanto, se sem os poderes que um Papa possui já lutava contra esta ideologia, foi natural que se mostrasse contra quando estivesse em posição de ser ouvido e influente.
O apoio da Igreja
Muitos poloneses consideram que o marco inicial da derrocada comunista foi o discurso de João Paulo II em 2 de junho de 1979, quando falou a meio milhão de compatriotas em Varsóvia e destacou o trabalho do Solidarność (Solidariedade), importante sindicato de trabalhadores poloneses que lutavam por direitos eleitorais e laborais. “Sem o discurso de Wojtyla, o cenário teria sido diferente. O Solidariedade e o povo não teriam se sentido fortes e unidos para levar a luta adiante”, acredita o escritor e jornalista Mieczylaw Czuma.
De acordo com Lech Walesa, lider do movimento, “antes de seu pontificado, o mundo estava dividido em blocos. Em Varsóvia, em 1979, ele simplesmente disse: ‘Não tenham medo, mudem a imagem desta terra'”
O Solidariedade surgiu em 17 de agosto de 1980, em Gdansk, quando o governo comunista da Polônia assinou, sob forte pressão popular, um acordo que permitiu a sua existência, ainda que no ano seguinte tenha tentado destruir sem sucesso a união do trabalhadores.
Assim, conversas entre o governo já muito enfraquecido e a oposição do Solidariedade levaram às eleições semiabertas em 4 de junho de 1989. Pelo fim de agosto, uma coligação liderada pelo Solidariedade foi formada para participar das eleições e, em dezembro, Walęsa foi eleito presidente.
A Igreja Católica apoiou o movimento Solidarność abertamente durante as eleições e, em janeiro de 1981, Walęsa foi cordialmente recebido pelo Papa João Paulo II no Vaticano.
Era a primeira peça que levaria ao fim o comunismo no Leste Europeu no final dos anos 80.
O Pontífice ainda faria outras investidas contra o comunismo em todo o mundo, havendo inclusive rumores de que seria aliado a CIA (Agência de Inteligência Americana) para que combatesse movimentos políticos considerados pró-marxistas. Mais ainda, há quem acredite que a Igreja enviava dinheiro diretamente ao Solidariedade à época da luta do sindicato, recorrendo à organizações criminosas para buscar financiamento.
Fato é que, segundo Paulo Daniel Farah, “a mais sólida instituição do Ocidente (o papado, nas palavras de Frei Betto) [sempre] foi administrada por seres humanos que influenciaram a história mundial por meio de decisões religiosas e políticas – às vezes [até] por motivações pessoais.”