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TV Manchete era extinta há 25 anos, relembre a emissora que marcou uma geração

Há 25 anos, a TV Manchete deixava de existir, mas seu legado continua vivo na memória daqueles que foram marcados por sua audácia e inovação. A emissora, que se destacou por sua programação sofisticada, conquistou o público com sua excelência em diversas áreas, desde o jornalismo até as produções infantis e os grandiosos desfiles de carnaval.

Ao longo de seus 40 anos de história, a Rede Manchete de Televisão impressionou o mercado e os telespectadores com sua infraestrutura moderna e conteúdo de qualidade. Rapidamente, tornou-se uma das principais emissoras do país, desafiando até mesmo a hegemonia da Globo em diversos aspectos.

No entanto, a trajetória da TV Manchete foi marcada por uma instabilidade financeira que a levava de momentos de glória a crises profundas. Mesmo diante de fracassos, a emissora não hesitava em arriscar, mantendo-se sempre em busca da excelência.

Entre sucessos e fracassos, a Manchete transitou entre o culto e o popular, o refinado e o simplório, enfrentando desafios e vivendo emoções intensas. Desde sua estreia em 1983, com uma vinheta futurista que marcou época, até seu fim melancólico, a emissora deixou uma marca indelével na história da televisão brasileira.

Líder de audiência desde seu primeiro dia no ar, a Manchete conquistou o público com programas de qualidade e inovação, como o icônico Jornal da Manchete, que revolucionou o jornalismo televisivo. Com uma programação diversificada, a emissora soube adaptar-se às mudanças do mercado e às demandas do público, mantendo-se relevante ao longo das décadas.

A Manchete foi pioneira na produção de novelas e minisséries, apostando em conteúdos que cativaram o público e diversificaram sua audiência. Mesmo enfrentando desafios, como as negociações conturbadas durante o carnaval de 1984, a emissora manteve-se firme em sua missão de oferecer entretenimento e informação de qualidade aos brasileiros.

A emissora também desenvolveu programas de variedades, comédia e um novo programa feminino apresentado por Clodovil, que estreou em 1986.

Sucesso nas novelas

O ano de 1986 marcou a estreia de “Dona Beija” na Manchete, uma novela estrelada por Maitê Proença que alcançou grande sucesso, chegando ao topo da audiência em várias ocasiões. Nesse mesmo ano, a Globo contratou Xuxa, levando a Manchete a lançar dois programas infantis: um com Simony, ex-contratada da Globo, e outro em formato de teleteatro com Lucinha Lins.

Em 1987, com José Wilker assumindo a direção de dramaturgia, a emissora ampliou sua programação de novelas, trazendo artistas renomados da Globo para produções como “Corpo Santo”, “Carmem”, “Helena” e “Olho por Olho”. Além disso, Angélica iniciou sua jornada como apresentadora do programa matinal “A Nave da Fantasia”, substituindo Simony.

No ano seguinte, em 1988, Angélica foi promovida a apresentadora do “Clube da Criança”, que retornou ao ar em seu horário tradicional, das 16h às 18h. A Manchete também lançou o popular seriado japonês “Jaspion”, que conquistou enorme sucesso e inspirou o surgimento de outras produções do gênero, como “Changeman”, “Fhasman” e “Black RX”.

Em 1989, com Jayme Monjardim assumindo o núcleo de dramaturgia, a emissora produziu mais um grande sucesso com “Kananga do Japão”. Além disso, Leila Cordeiro e Eliakim Araujo, renomados apresentadores da Globo, juntaram-se à Manchete para ancorar o “Jornal da Manchete”, marcando o início de uma era de ouro para a emissora.

Nesse período, a Manchete destacou-se não apenas pelas suas novelas e programas infantis bem-sucedidos, mas também pelo jornalismo ágil e independente. O “Jornal da Manchete” tornou-se referência, apresentando uma cobertura detalhada e imparcial dos acontecimentos, com Leila e Eliakim consagrando-se como um dos principais casais do telejornalismo brasileiro.

Em 1989, a própria Globo reconheceu a qualidade da concorrência ao elogiar a Manchete por uma entrevista exclusiva com Mikhail Gorbachev, transmitida pelo “Jornal da Manchete”. Esse reconhecimento evidenciou não apenas o talento jornalístico da Manchete, mas também a importância da competição saudável no meio televisivo.

O fenômeno Pantanal e o começo do fim

A paisagem televisiva brasileira estava repleta de novelas e séries que capturavam a essência do país. Em 1990, a Manchete contratou Benedito Ruy Barbosa para escrever uma novela que a Rede Globo havia recusado: “Pantanal”. Jayme Monjardim, com sua visão narrativa única, trouxe uma história que cativou o público desde as primeiras semanas de exibição.

“Pantanal” liderou a audiência no Rio de Janeiro a partir da terceira semana, abrindo uma vantagem de 20 pontos sobre a Globo. Em São Paulo, a novela foi líder em quase 60% dos capítulos. Esse sucesso inspirou a emissora a investir em produções que explorassem as belezas naturais do Brasil. No ano seguinte, estreou “A História de Ana Raio e Zé Trovão”, destacando a rotina de uma caravana de rodeios em uma jornada por mais de 14 mil quilômetros.

Com o slogan “O Brasil que o Brasil não conhece”, a Manchete consolidou sua posição como a segunda emissora mais assistida do país. Minisséries como “O Canto das Sereias”, “O Guarani”, “Filhos do Sol” e “Canto das Sereias” mantiveram o segundo lugar na audiência, desbancando o SBT.

A flexibilidade da Manchete como contraponto à TV Globo permitia que talentos do mercado migrassem entre as duas emissoras. A liberdade criativa e a falta de uma postura politicamente correta proporcionavam um ambiente propício para a experimentação e a inovação.

No entanto, a venda da emissora para o Grupo IBF marcou o início de uma crise financeira. A gestão do grupo resultou na saída de grandes estrelas da Manchete e em uma queda significativa na audiência. Greves entre os funcionários e a interrupção de programas populares afetaram ainda mais a reputação da emissora.

O retorno dos Blochs ao controle da Manchete em 1993 representou uma tentativa de recuperação. O foco em programas de baixo custo e produções independentes foi uma estratégia para capitalizar e reconquistar o público. A transmissão de eventos esportivos e o sucesso repentino de “Os Cavaleiros do Zodíaco” deram um fôlego temporário à emissora.

A partir de 1995, a Manchete concentrou seus esforços em buscar audiência. O lançamento de novelas como “Tocaia Grande” e “Xica da Silva” trouxe algum alívio, mas a crise persistia. A aposta em produções de baixo retorno, como “Brida”, agravou ainda mais a situação financeira da emissora.

A flutuação cambial e as dívidas crescentes levaram a Manchete à beira do colapso. A tentativa de arrendamento para a Igreja Renascer foi cancelada pelo governo, marcando o fim de uma era para a emissora.

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